sábado, 21 de junio de 2008

¡Eramos pocos y apareció el candombe brasilero!

Es claro que porque un género o manifestación cultural tenga el mismo nombre que otros no significa que sean lo mismo, que sean parecidos, o que estén relacionados. De todas maneras, sería interesante hacer un análisis comparativo para establecer posibles relaciones (el autor parece hacerlo, no tengo el libro). Tanto Minas Gerais como Sao Paulo, estados supuestamente “blancos”, albergan innúmeras manifestaciones de cultura negra en sus pueblos del interior, lo que muestra la vitalidad y presencia de la cultura afrobrasilera en todo el país.
PEREIRA, Edimilson de Almeida
Os tambores estão frios: herança cultural e sincretismo religioso de Candombe.
Juiz de Fora – Belo Horizonte:Funalfa Edições – Mazza Edições, 2005
Comentado por Brígida Carla Malandrino y Ênio José da Costa Brito
O extenso livro Os tambores estão frios, de Edimilson de Almeida Pereira, poeta, ensaísta e professor no Departamento de Letras da Universidade Federal de Juiz de Fora, além de autor de vários livros, versa a respeito do Candombe em Minas Gerais. Ouve-se dizer que, quando os tambores estão frios, basta passar dendê que eles esquentam. Não parece ser tão simples esquentar os tambores na visão do autor. Para ele, esquentar os tambores é algo muito mais complexo do que isso, já que o esfriamento dos tambores ocorre em função da diluição dos saberes antigos e do desinteresse das novas gerações pelas experiências religiosas, influenciadas pela perda de referenciais simbólicos e pela mudança da ordem social religiosa por uma de tendência secularizada. Busca, então, o conhecimento da vivência religiosa de determinadas comunidades afro-descendentes, compreendendo as inter-relações que se estabelecem com a sociedade abrangente.
Cabe destaque para a organização metodológica do texto, uma vez que o autor recupera o quadro teórico-metodológico, deixando o leitor a par de tudo o que é trabalhado no decorrer da obra. Além disso, metodologicamente, o autor rompe com alguns mitos, desfazendo a idéia de uma hipótese fixa, já que no início do trabalho entende como hipótese a idéia do ritual como afirmativo da identidade étnica de camadas desprivilegiadas da população e evidencia focos de tensão cultural na sociedade brasileira, para, ao final, rearticular tal hipótese, tendo como tese que o Candombe revela a fragmentação cultural de certos grupos étnicos, evidencia focos de tensão sócio-econômica na sociedade brasileira e exprime formas próprias de sincretismo religioso.
O autor divide o corpo do trabalho em três capítulos, baseado na idéia de que a interação do imaginário religioso com a sociedade nos leva à construção de uma linha interpretativa para o Candombe baseada num recorte temporal diacrônico e sincrônico. Por um lado, busca apreender os meios de existência da cultura afro-brasileira no passado, para que se possa avaliar o alcance do Candombe entre as vivências religiosas de uma população pressionada pelo regime escravista (diacronia); por outro, faz a investigação das formas de vivência e de manifestação contemporânea do Candombe para observar se as tensões étnicas, religiosas e culturais em nossa sociedade permaneceram, desaparecem ou se rearticularam (sincronia).
O texto possui uma abordagem interdisciplinar através do enfoque histórico, lingüístico e antropológico, vendo o Candombe como um ritual sagrado, inserido na cultura popular e revelador de uma vertente étnico-cultural afro-brasileira. Neste sentido, conhecer a organização social em que ele surgiu (enfoque histórico), o discurso que fundamenta o ritual (enfoque lingüístico) e o valor simbólico e material que adquiriu para os indivíduos e grupos que o vivenciam (enfoque antropológico), torna-se importante para perceber o Candombe em sua totalidade.
No capítulo “Celebração de negros”, o autor aborda o ritual, tratando dos aspectos que o caracterizam. Aborda também os participantes do Candombe, a natureza e a função dos pontos, bem como os elementos rituais constituintes, além de fazer uma descrição minuciosa do ritual em diversos lugares: Contagem (Arturos), Justinópolis, Mato do Tição, Mocambeiro, Quinta do Sumidouro, Araçuaí, Macaúbas, Indequicé (André Kissé), Lagoa de Santo Antônio, Jequitibá.
No que diz respeito aos aspectos que caracterizam o ritual, aborda a origem étnica dominante: banto; os temas: sérios e entretenimento (bizarria); estrutura ritual: três tambores, uma puíta, um guaiá, canto solo e resposta em coro, dança livre (improvisos); o conteúdo: tradição religiosa passada oralmente de geração a geração, evidenciando situações de confronto (desafios) entre os candombeiros; os veículos de transmissão da sabedoria ancestral: dança (linguagem gestual), cantos e narrativas (linguagem verbal); a orientação espiritual: celebração da memória dos ancestrais (sem incorporação) e louvação aos santos católicos; as formas: fixo (capelas e terreiros) ou cortejo (percurso em vias públicas). Já nos pontos, descreve cada um deles, indo dos pontos de abertura aos pontos para os ancestrais, passando pelos pontos de Zambi, Calunga, Jesus Cristo, santos e Nossa Senhora, até os pontos de alerta e pontos para pedir cachaça. Sobre os elementos rituais constituintes, nos informa sobre os instrumentos – tambores, puíta, guaiás; as narrativas, destacando as modalidades, o conteúdo e a forma.
Já no capítulo “Olhos para o Candombe”, o autor aborda o Candombe a partir de três enfoques. No enfoque histórico, destaca os aspectos referentes ao panorama das culturas ioruba e banto na sociedade brasileira (reelaboração cultual, a partir da religiosidade banto); ordem social violenta no interior da qual o Candombe se desenvolveu (opressão e alternativas); no enfoque lingüístico enfatiza a linguagem do Candombe, identificada como “língua de preto”, como uma construção de significados que se adequaram a determinadas experiências vividas pelos negros bantos no Brasil, exprimindo a leitura que fizeram do encontro com o Catolicismo e com a violência do modelo social escravista e pós-escravista.
Por fim, no enfoque antropológico, revela que o valor do Candombe está relacionado à eficácia de sua ação comunicativa. Os praticantes o entendem como um modelo cultural herdado dos ancestrais, como uma fonte de visão de mundo. Suas mensagens são projetadas para outros setores da vida tanto quanto as mensagens exteriores são incorporadas à sua organização ritual.
Divide os aspectos antropológicos em: linguagem simbólica (conhecimento de mundo trazido ao Brasil pelos africanos escravizados e reelaborado à luz de novas condições históricas e sociais); afinidade afetiva (presença de elementos bantos, que significa que a ponte entre Brasil e África, além de um fato histórico, configurando-se como um referencial existencial); transmissão oral do conhecimento (opção de um grupo pela oralidade ou pela escrita está relacionada à sua concepção de mundo e aos valores, que caracteriza a inserção desse grupo no cenário das outras sociedades); demandas na casa de Zambi (inserção num campo de relações externas e internas); e parentescos rituais (comentários sobre o Jongo, Candombe e os Candombes do Uruguai e da Argentina, para compreender os diálogos entre diferentes modelos culturais em situações históricas marcadas pelo escravismo).
Por fim, no capítulo “Se os tambores chamam”, o autor trabalha a questão do sincretismo, iniciando com sua definição do termo. Como há contradições entre o conceito e a realidade, o autor opta por olhar o sincretismo a partir do campo empírico. Analisa o Congado para, em seguida, analisar o sincretismo no Candombe. Para ele, o sincretismo no Candombe articulada três tradições religiosas – heranças de procedência banto, influência do Catolicismo, referências à Umbanda. Há variações de lugar para lugar, mas o Catolicismo aparece em todos os Candombes e a Umbanda se manifesta proporcionalmente, sendo mais aceita em alguns grupos do que em outros. O Candombe é um ritual sincrético, havendo a participação relativa de diferentes tradições religiosas e culturais em sua constituição.
O texto apresenta alguns desafios, tais como a descrição extensa de alguns rituais. Apesar de tal descrição refletir a preocupação do autor em documentá-los, com o intuito de preservação de memória, talvez alguns deles pudessem ser apresentados em apêndices; como todo trabalho é devedor do seu tempo, há alguns dados históricos que poderiam ser revisados, uma vez que há novos estudos sobre a escravidão, além de arquivos estarem sendo abertos trazendo novos dados empíricos que esclarecem e iluminam fatos e acontecimentos; algumas análises sobre o sincretismo são feitas de maneira mecânica, perdendo o movimento dialético buscado e conseguido pelo autor todo o tempo durante o trabalho; e, por fim, os objetivos nos parecerem amplos, fazendo com que o autor tomasse um pequeno desvio do seu foco, mas que trouxe contribuições interessantíssimas, como, por exemplo, a origem do tango.
Tais aspectos não tiram o mérito de Edimilson de Almeida Pereira, em Os tambores estão frios, uma vez que o trabalho trata de maneira sistemática do ritual do Candombe, além de possuir uma riqueza etnográfica e iconográfica. Este trabalho nos mostra que os tambores não estão definitivamente frios. As possibilidades do Candombe continuar a existir ou desaparecer constituem hipóteses. As potencialidades sincréticas do ritual e as negociações que os devotos realizam no campo religioso ora revigoram os seus fundamentos, ora minimizam os seus significados, significando um estímulo para que outros olhos se voltem para o Candombe. Tudo leva a crer que o autor conseguiu o “esquentamento” dos tambores.

* Brígida Carla Malandrino é doutoranda em Ciências da Religião pela PUC-SP.
** Ênio José da Costa Brito é professor do mesmo Programa.
Fuente: Revista REVER (revista sobre estudios de la religión online)
Editorial que publicó el libro: http://www.mazzaedicoes.com.br/